Fraude em manutenção de ambulâncias do Samu entre 2022 e 2024 incluiu abastecimento e lavagem a veículos sucateados, dizem PF e CGU
28/11/2025
(Foto: Reprodução) Operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União cumpriu nove mandados de busca e apreensão
Divulgação/ Polícia Federal
As fraudes envolvendo serviços de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Goiânia incluíram serviços como abastecimento de combustíveis, lavagem, além de troca de óleo e peças até em veículos sucateados, segundo a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU), responsáveis pela investigação que culminou na operação realizada nesta sexta-feira (28).
O esquema envolve um contrato de cerca de R$ 2 milhões, com prejuízos causados entre 2022 e 2024, durante a gestão do ex-prefeito Rogério Cruz. O delegado da PF André Monteiro explicou que pelo menos dez pessoas fazem parte do grupo por trás das fraudes, entre elas quatro servidores municipais, que eram os próprios responsáveis por fiscalizar os contratos.
"Eles atuavam nas duas pontas do esquema. Pegavam essas viaturas do Samu e executavam os serviços em oficinas clandestinas e, posteriormente, emitiam notas em empresas credenciadas", explicou.
✅ Clique e siga o canal do g1 GO no WhatsApp
O ex-prefeito Rogério Cruz informou, por meio de nota, que não é investigado, nem figura entre os alvos da operação. Já a Secretaria municipal de Saúde disse que a apuração das suspeitas se refere à gestão passada, mas que está à inteira disposição dos órgãos de controle e investigação para fornecer todas as informações e documentos necessários. Leia as íntegras das notas ao final da reportagem.
Segundo o delegado André Monteiro, os recursos desviados são federais e se referem aos repasses do Ministério da Saúde para o município, para o custeio dos serviços de manutenção com a frota do Samu. Como as investigações ainda estão em andamento, o valor total dos prejuízos aos cofres públicos ainda será apurado.
"Outros contratos podem ter sido envolvidos. Então, nós não temos como determinar, até o momento, quanto foi desviado efetivamente", afirmou.
À época, boa parte da frota de ambulâncias estava inoperante, segundo Monteiro. As investigações apontaram que elas teriam sido objeto de serviços não executados. Houve também serviços prestados, mas cujos valores foram superfaturados.
Segundo o delegado André Monteiro, os recursos desviados são federais e se referem aos repasses do Ministério da Saúde para o município
Rafaella Barros/ g1
LEIA TAMBÉM
Operação mira fraudes em contratos de ambulâncias do Samu em Goiânia
Delegado é preso suspeito de desviar R$ 2,2 milhões em contratos na área da educação em Rio Verde
Envolvimento em contrabando e lavagem de dinheiro: veja crimes dos quais PMs alvos de operação da PF em Goiás são suspeitos
Oficinas clandestinas
Segundo a superintendente da CGU em Goiás Suzana Kroehling, a análise do órgão foi referente a uma frota de 17 ambulâncias próprias do município. Hoje, a frota é outra, alugada. Kroehling citou alguns exemplos de fraudes, constatadas por meio de processos de pagamento e praticadas em oficinas clandestinas, algumas, inclusive, de propriedade dos próprios servidores públicos.
"Havia notas repetidas, para uma mesma ambulância, para um mesmo serviço e em um prazo muito curto. É uma evidência de que o serviço possivelmente não foi prestado. Porque trocar o freio de uma ambulância quatro vezes em um mês não é razoável', exemplificou.
A superintendente da CGU em Goiás Suzana Kroehling citou exemplos de fraudes, como serviços de troca de óleo, troca de freio e abastecimento de combustíveis
Rafaella Barros/ g1
Kroehling explicou que, para o ressarcimento dos prejuízos aos cofres públicos, o Ministério da Saúde pode fazer uma tomada de contas de como está sendo prestado o serviço para o Samu. "Mas próprio município tem como instaurar as suas investigações e cobrar, através, tanto de processos administrativos disciplinares dos servidores, quanto processos administrativos de responsabilização das empresas envolvidas", acrescentou.
Investigações continuam
O delegado e a superintendente esclareceram que a análise foi feita sobre o serviços realizados entre janeiro de 2022 e maio de 2024, mas novas apurações podem ser feitas de acordo com o andamento das investigações, que ainda não estão concluídas. Na operação desta segunda-feira, a PF apreendeu celulares, documentos e notas fiscais, que poderão fornecer novas informações sobre o esquema.
"Como os servidores continuam atuando e os contratos continuam vigentes, a partir dos resultados da busca e apreensão, nós podemos avançar essas investigações para novos contratos ou para mesmo contrato na atual gestão", disse Monteiro.
A Secretaria municipal de Saúde informou ao g1 que abrirá processo administrativo para apurar a conduta dos servidores envolvidos e a prestação de serviços da empresa na atual gestão.
Leia a íntegra da nota do ex-prefeito Rogério Cruz:
"O ex-prefeito Rogério Cruz esclarece que não é investigado, nem figura entre os alvos da Operação Check-up 192, deflagrada pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Polícia Federal nesta sexta-feira (28).
As apurações tratam exclusivamente de eventuais irregularidades operacionais e administrativas relacionadas à manutenção da frota do SAMU, envolvendo servidores e empresas contratadas.
Tais rotinas técnicas são de responsabilidade direta das áreas específicas da Secretaria Municipal de Saúde, amparadas por processos internos e fiscalização própria.
O ex-prefeito reforça compromisso permanente com a transparência e confia no trabalho das instituições responsáveis pelas investigações".
Leia a íntegra da nota da Secretaria Municipal de Saúde:
"A Prefeitura de Goiânia esclarece que a Operação Check-up 192, deflagrada nesta sexta-feira (28/11), pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Polícia Federal (PF), apura suspeitas de irregularidades na manutenção de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) durante a gestão anterior, entre os anos de 2022 e 2024.
A atual gestão está à inteira disposição dos órgãos de controle e investigação para fornecer todas as informações e documentos necessários, contribuindo para o pleno esclarecimento dos fatos e para a responsabilização dos envolvidos.
Neste ano, toda a frota do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi substituída. O serviço conta atualmente com 22 ambulâncias em uso e informa regularmente ao Ministério da Saúde a produtividade e situação das viaturas".
Veja os vídeos que estão em alta no g1
📱 Veja outras notícias da região no g1 Goiás.